Menos Padres...
Um dos problemas que mais preocupa e afecta a Igreja é, sem dúvida alguma, a progressiva diminuição de sacerdotes.
Em arciprestados onde, há algumas décadas, trabalhavam dez ou mais sacerdotes, hoje são apenas três ou quatro. Como resultado, são muitos os sacerdotes que têm a seu cuidado seis ou mais paróquias. E as consequências que daí derivam para a acção pastoral e para a vida das comunidades são necessariamente muitas.
No entanto, do simples facto de serem menos não se pode concluir, sem mais, que os sacerdotes sejam poucos.
Não será que, em parte, os sacerdotes são poucos, porque ainda continuam a fazer muitas coisas que podem e devem ser feitas por leigos? Não estamos a falar de tarefas e responsabilidades que os leigos assumam pelo facto de os sacerdotes serem menos, mas porque são próprias da sua vocação laical!
Não será que os sacerdotes são poucos, porque queremos manter o número e o tipo de paróquias que temos?
Na realidade, temos paróquias com menos de cem habitantes! Muitas outras não ultrapassam as duas ou três centenas. E muitas dessas pessoas, embora baptizadas, não se encontram minimamente inseridas na vida da comunidade cristã, tendo com ela apenas uma relação ocasional (o casamento, o baptismo dos filhos, o funeral de algum parente ou amigo).
Depois, existem paróquias que se encontram muito próximas umas das outras ( 1,2 ou 3 Km). Porém, apesar de geograficamente vizinhas, estão muito distantes a nível eclesial. Constituem mundos à parte, como se não fizessem parte da mesma Igreja, da mesma e única família de Deus!
É claro que para manter esta situação os padres são poucos. Mas também é claro que esta situação não se deve manter!
A fé e a comunhão eclesial exigem que se empreenda uma nova reorganização das comunidades cristãs, se implemente um novo modelo de acção pastoral e se fomente um novo modo de celebrar e viver a fé.
Então, os padres já não serão tão poucos como isso!
... e paróquias a mais.
A exagerada criação de paróquias acontece em tempos de abundância de clero. Nesses tempos, e tempos houve em que os padres eram em demasia, tornava-se necessário garantir a todos um lugar (um ofício) bem como o indispensável sustento.
Assim, quando uma comunidade (ou o conjunto de pequenas comunidades) podia prover ao sustento de um sacerdote, era constituída em paróquia. E a excessiva abundância de clero permitiu e explica que até muitas famílias ricas, que tinham uma capela privada, tivessem também o seu próprio capelão!
Na paróquia, o sacerdote fazia tudo, e tinha tempo para fazer tudo, quer no que se refere à sua administração quer no que diz respeito à vida religiosa da mesma.
Neste tipo de paróquia, os leigos viviam completamente alheados da sua vocação e missão na Igreja e no mundo. Limitavam-se a assistir às celebrações religiosas e a dar o seu contributo económico para o sustento do culto e do clero.
De um modo geral, os cristãos não tinham uma fé esclarecida pela palavra de Deus. A Bíblia não estava ao alcance dos leigos. Não havia lugar para uma participação activa e consciente na liturgia. O sacerdote era o único protagonista e os leigos meros espectadores! E as implicações sociais da fé não eram tidas na devida conta.
Como tudo se passava no pequeno e fechado mundo da sua paróquia, os horizontes de pertença à Igreja eram muito restritos. Com muita dificuldade, os cristãos conseguiam ver e sentir para além da torre da igreja e das fronteiras da paróquia.
Ainda hoje, muitos cristãos têm dificuldade em compreender e viver a fé à luz da sua pertença à Igreja universal. Sentem-se amarrados aos limites da sua terra. Alguns nem sequer conseguem viver a sua fé no âmbito da comunhão paroquial. Não estão dispostos a encontrar-se com Jesus e com Deus noutros lugares e no seio de outras comunidades. Esses esquecem que a verdadeira fé vence todos os bairrismos e particularismos!
O que entretanto mudou
Felizmente, graças ao Espírito Santo, já muito mudou com o Concílio Vaticano II e a partir dele. Hoje é muito diferente e mais ajustada a visão que temos da Igreja, do ministério sacerdotal e da missão dos leigos.
Já há leigos, em quase todas as paróquias, que assumem alguma responsabilidade e exercem algum ministério. Por sua vez, os povos já compreendem e aceitam melhor que certas funções, até há pouco monopólio dos sacerdotes, sejam desempenhadas pelos leigos.
Todavia, ainda permanecem muitos sinais e efeitos da visão e mentalidade anteriores. De facto, muitos cristãos (entre os quais podemos incluir alguns padres) persistem em querer e exigir que o sacerdote faça também a parte dos leigos. Propositadamente esquecem, porque assim lhes convém, que os baptizados, pelo facto de o serem, participam da tríplice missão da Igreja (ensinar, santificar e servir).
É curioso notar que a diminuição dos sacerdotes se segue ao Concílio Vaticano II. Este dá início ao fim de uma Igreja eminentemente clerical. E uma Igreja menos clerical precisa, como é obvio, de menos padres e aproveita melhor os padres que tem!
Na verdade, à medida que os leigos assumem o papel que lhes cabe dentro da Igreja, os sacerdotes ficam mais disponíveis para aquilo que é específico da sua missão. E, nessa mesma medida, podem estender a sua acção, naquilo que lhes é próprio, a outras comunidades.
Além disso, à medida que se forem libertando os sacerdotes de certas funções burocráticas e administrativas, que não exigem o poder da ordem e que, por isso mesmo, podem ser exercidas pelos leigos, haverá mais sacerdotes disponíveis para o serviço pastoral das comunidades cristãs.
Embora seja preocupante a actual crise de vocações sacerdotais, ela seria muito mais dramática se tivéssemos de a olhar e vencer sem a luz da nova eclesiologia conciliar. Há, pois, nesta situação uma reveladora e providencial coincidência!
Depois, também é curioso notar que o início da diminuição dos sacerdotes coincide com a vulgarização do automóvel. Este facto veio permitir que um mesmo sacerdote se possa ocupar pastoralmente de várias comunidades.
Trata-se de mais uma feliz coincidência! Ou melhor, de um outro facto e sinal da providência de Deus! Na realidade, seria muito mais dramática a falta de clero sem os actuais meios de transporte que possuímos!
É evidente que, com a colaboração dos leigos e a facilidade de deslocação, o sacerdote pode chegar mais longe e a mais comunidades. Todavia, tudo tem um limite.
E há um critério para esse limite. Um critério que nos é dado por Jesus, quando se apresenta na sua missão de Bom Pastor. “Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me” (Jo 10,13). O sacerdote, enquanto pastor que é, deve poder conhecer e amar aqueles que é chamado a servir em nome de Jesus.
Não basta que o sacerdote garanta o culto nas diferentes paróquias. Ele não pode descuidar ou pôr de lado a sua missão de pastor. Porém, tudo isso tem um limite. E na hora de atribuir mais paróquias, o Bispo não pode esquecer, por um lado, as reais exigências da missão do padre e, por outro lado, as suas contingências humanas.
Nos nossos dias, o automóvel vulgarizou-se de tal modo que quase todas as pessoas têm acesso a este meio de transporte. Parece lógico e é de esperar que os cristãos também o usem ao serviço da sua fé.
Os cristãos, quando acreditam de verdade, quando têm consciência da sua pertença à Igreja e quando vivem a comunhão eclesial, são capazes de se deslocar para participarem na Eucaristia ou para aprofundarem a sua fé noutras terras e com os cristãos de outras comunidades.
A fé, quando é autêntica, e a comunhão eclesial, quando é sentida, levam o cristão a vencer o comodismo e a superar o bairrismo das terras e lugares. Quando os cristãos acreditam de verdade e de verdade procuram a Deus, usam todos os meios que estão ao seu alcance para celebrarem a fé e se encontrarem com Ele.
Num tempo em que se usa o automóvel para tudo, até para ir tomar o café a cem metros de casa, porque é que não se há-de usar também ao serviço da vida cristã? Só o sacerdote é que tem a obrigação de o usar para chegar a todo lado?
Se a tua fé não te põe a caminho e não te abre a outras comunidades, não será porque ainda não acreditas verdadeiramente em Cristo nem professas a verdadeira fé da Igreja?
O decréscimo do número de sacerdotes coincide ainda com a acentuada desertificação do mundo rural, causada pela emigração, pela deslocação para os centros urbanos e pela descida da natalidade.
As paróquias têm efectivamente poucas pessoas e estas são, na sua maioria, idosas. Na realidade, são poucas as crianças e os jovens em idade escolar e de catequese. São poucos os adultos que têm formação suficiente para exercerem algum ministério no seio da comunidade. São poucas as pessoas que participam regularmente na vida da paróquia, muito concretamente na celebração da Eucaristia dominical.
Em paróquias com estas dimensões e com estas características, o sacerdote tem menos que fazer. Com efeito, são menos os grupos de catequese, os baptizados, os casamentos, as confissões, as reuniões de formação... Mas também é verdade que nestas paróquias é particularmente difícil manter um mínimo razoável de vida cristã.
Nas presentes circunstâncias, é legítimo questionar se estas comunidades podem ou não sobreviver como paróquias. E, em caso negativo, que solução poderemos propor?
Um dos problemas que mais preocupa e afecta a Igreja é, sem dúvida alguma, a progressiva diminuição de sacerdotes.
Em arciprestados onde, há algumas décadas, trabalhavam dez ou mais sacerdotes, hoje são apenas três ou quatro. Como resultado, são muitos os sacerdotes que têm a seu cuidado seis ou mais paróquias. E as consequências que daí derivam para a acção pastoral e para a vida das comunidades são necessariamente muitas.
No entanto, do simples facto de serem menos não se pode concluir, sem mais, que os sacerdotes sejam poucos.
Não será que, em parte, os sacerdotes são poucos, porque ainda continuam a fazer muitas coisas que podem e devem ser feitas por leigos? Não estamos a falar de tarefas e responsabilidades que os leigos assumam pelo facto de os sacerdotes serem menos, mas porque são próprias da sua vocação laical!
Não será que os sacerdotes são poucos, porque queremos manter o número e o tipo de paróquias que temos?
Na realidade, temos paróquias com menos de cem habitantes! Muitas outras não ultrapassam as duas ou três centenas. E muitas dessas pessoas, embora baptizadas, não se encontram minimamente inseridas na vida da comunidade cristã, tendo com ela apenas uma relação ocasional (o casamento, o baptismo dos filhos, o funeral de algum parente ou amigo).
Depois, existem paróquias que se encontram muito próximas umas das outras ( 1,2 ou 3 Km). Porém, apesar de geograficamente vizinhas, estão muito distantes a nível eclesial. Constituem mundos à parte, como se não fizessem parte da mesma Igreja, da mesma e única família de Deus!
É claro que para manter esta situação os padres são poucos. Mas também é claro que esta situação não se deve manter!
A fé e a comunhão eclesial exigem que se empreenda uma nova reorganização das comunidades cristãs, se implemente um novo modelo de acção pastoral e se fomente um novo modo de celebrar e viver a fé.
Então, os padres já não serão tão poucos como isso!
... e paróquias a mais.
A exagerada criação de paróquias acontece em tempos de abundância de clero. Nesses tempos, e tempos houve em que os padres eram em demasia, tornava-se necessário garantir a todos um lugar (um ofício) bem como o indispensável sustento.
Assim, quando uma comunidade (ou o conjunto de pequenas comunidades) podia prover ao sustento de um sacerdote, era constituída em paróquia. E a excessiva abundância de clero permitiu e explica que até muitas famílias ricas, que tinham uma capela privada, tivessem também o seu próprio capelão!
Na paróquia, o sacerdote fazia tudo, e tinha tempo para fazer tudo, quer no que se refere à sua administração quer no que diz respeito à vida religiosa da mesma.
Neste tipo de paróquia, os leigos viviam completamente alheados da sua vocação e missão na Igreja e no mundo. Limitavam-se a assistir às celebrações religiosas e a dar o seu contributo económico para o sustento do culto e do clero.
De um modo geral, os cristãos não tinham uma fé esclarecida pela palavra de Deus. A Bíblia não estava ao alcance dos leigos. Não havia lugar para uma participação activa e consciente na liturgia. O sacerdote era o único protagonista e os leigos meros espectadores! E as implicações sociais da fé não eram tidas na devida conta.
Como tudo se passava no pequeno e fechado mundo da sua paróquia, os horizontes de pertença à Igreja eram muito restritos. Com muita dificuldade, os cristãos conseguiam ver e sentir para além da torre da igreja e das fronteiras da paróquia.
Ainda hoje, muitos cristãos têm dificuldade em compreender e viver a fé à luz da sua pertença à Igreja universal. Sentem-se amarrados aos limites da sua terra. Alguns nem sequer conseguem viver a sua fé no âmbito da comunhão paroquial. Não estão dispostos a encontrar-se com Jesus e com Deus noutros lugares e no seio de outras comunidades. Esses esquecem que a verdadeira fé vence todos os bairrismos e particularismos!
O que entretanto mudou
Felizmente, graças ao Espírito Santo, já muito mudou com o Concílio Vaticano II e a partir dele. Hoje é muito diferente e mais ajustada a visão que temos da Igreja, do ministério sacerdotal e da missão dos leigos.
Já há leigos, em quase todas as paróquias, que assumem alguma responsabilidade e exercem algum ministério. Por sua vez, os povos já compreendem e aceitam melhor que certas funções, até há pouco monopólio dos sacerdotes, sejam desempenhadas pelos leigos.
Todavia, ainda permanecem muitos sinais e efeitos da visão e mentalidade anteriores. De facto, muitos cristãos (entre os quais podemos incluir alguns padres) persistem em querer e exigir que o sacerdote faça também a parte dos leigos. Propositadamente esquecem, porque assim lhes convém, que os baptizados, pelo facto de o serem, participam da tríplice missão da Igreja (ensinar, santificar e servir).
É curioso notar que a diminuição dos sacerdotes se segue ao Concílio Vaticano II. Este dá início ao fim de uma Igreja eminentemente clerical. E uma Igreja menos clerical precisa, como é obvio, de menos padres e aproveita melhor os padres que tem!
Na verdade, à medida que os leigos assumem o papel que lhes cabe dentro da Igreja, os sacerdotes ficam mais disponíveis para aquilo que é específico da sua missão. E, nessa mesma medida, podem estender a sua acção, naquilo que lhes é próprio, a outras comunidades.
Além disso, à medida que se forem libertando os sacerdotes de certas funções burocráticas e administrativas, que não exigem o poder da ordem e que, por isso mesmo, podem ser exercidas pelos leigos, haverá mais sacerdotes disponíveis para o serviço pastoral das comunidades cristãs.
Embora seja preocupante a actual crise de vocações sacerdotais, ela seria muito mais dramática se tivéssemos de a olhar e vencer sem a luz da nova eclesiologia conciliar. Há, pois, nesta situação uma reveladora e providencial coincidência!
Depois, também é curioso notar que o início da diminuição dos sacerdotes coincide com a vulgarização do automóvel. Este facto veio permitir que um mesmo sacerdote se possa ocupar pastoralmente de várias comunidades.
Trata-se de mais uma feliz coincidência! Ou melhor, de um outro facto e sinal da providência de Deus! Na realidade, seria muito mais dramática a falta de clero sem os actuais meios de transporte que possuímos!
É evidente que, com a colaboração dos leigos e a facilidade de deslocação, o sacerdote pode chegar mais longe e a mais comunidades. Todavia, tudo tem um limite.
E há um critério para esse limite. Um critério que nos é dado por Jesus, quando se apresenta na sua missão de Bom Pastor. “Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me” (Jo 10,13). O sacerdote, enquanto pastor que é, deve poder conhecer e amar aqueles que é chamado a servir em nome de Jesus.
Não basta que o sacerdote garanta o culto nas diferentes paróquias. Ele não pode descuidar ou pôr de lado a sua missão de pastor. Porém, tudo isso tem um limite. E na hora de atribuir mais paróquias, o Bispo não pode esquecer, por um lado, as reais exigências da missão do padre e, por outro lado, as suas contingências humanas.
Nos nossos dias, o automóvel vulgarizou-se de tal modo que quase todas as pessoas têm acesso a este meio de transporte. Parece lógico e é de esperar que os cristãos também o usem ao serviço da sua fé.
Os cristãos, quando acreditam de verdade, quando têm consciência da sua pertença à Igreja e quando vivem a comunhão eclesial, são capazes de se deslocar para participarem na Eucaristia ou para aprofundarem a sua fé noutras terras e com os cristãos de outras comunidades.
A fé, quando é autêntica, e a comunhão eclesial, quando é sentida, levam o cristão a vencer o comodismo e a superar o bairrismo das terras e lugares. Quando os cristãos acreditam de verdade e de verdade procuram a Deus, usam todos os meios que estão ao seu alcance para celebrarem a fé e se encontrarem com Ele.
Num tempo em que se usa o automóvel para tudo, até para ir tomar o café a cem metros de casa, porque é que não se há-de usar também ao serviço da vida cristã? Só o sacerdote é que tem a obrigação de o usar para chegar a todo lado?
Se a tua fé não te põe a caminho e não te abre a outras comunidades, não será porque ainda não acreditas verdadeiramente em Cristo nem professas a verdadeira fé da Igreja?
O decréscimo do número de sacerdotes coincide ainda com a acentuada desertificação do mundo rural, causada pela emigração, pela deslocação para os centros urbanos e pela descida da natalidade.
As paróquias têm efectivamente poucas pessoas e estas são, na sua maioria, idosas. Na realidade, são poucas as crianças e os jovens em idade escolar e de catequese. São poucos os adultos que têm formação suficiente para exercerem algum ministério no seio da comunidade. São poucas as pessoas que participam regularmente na vida da paróquia, muito concretamente na celebração da Eucaristia dominical.
Em paróquias com estas dimensões e com estas características, o sacerdote tem menos que fazer. Com efeito, são menos os grupos de catequese, os baptizados, os casamentos, as confissões, as reuniões de formação... Mas também é verdade que nestas paróquias é particularmente difícil manter um mínimo razoável de vida cristã.
Nas presentes circunstâncias, é legítimo questionar se estas comunidades podem ou não sobreviver como paróquias. E, em caso negativo, que solução poderemos propor?
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