Informações diversas e actuais de interesse a respeito da paróquia de LAGEOSA DO MONDEGO - Celorico da Beira, distrito da Guarda

sábado, fevereiro 26, 2011

"Não podeis servir a Deus e ao dinheiro"

O pleno cumprimento da Lei exige que o homem reconheça e ame Deus como o seu único Senhor. Jesus diz-nos que não é tolerável que o homem coloque a riqueza ao mesmo nível de Deus. Ou, pior ainda, que o amor à riqueza secundarize o amor devido a Deus.
Jesus, ao apontar a gravidade e a contradição de tal comportamento, mais do que defender um direito de Deus, tem em vista garantir a liberdade e a dignidade do homem. Na verdade, o Deus do amor, precisamente porque ama, está ao serviço do homem, respeitando todos os seus direitos. Deus, porque ama, não domina, mas dá-se ao homem para que este se realize plenamente. Ao passo que a riqueza, quando o homem lhe dá a primazia na sua vida, faz dele um escravo e, simultaneamente, um tirano.
Com efeito, quando se convence que a felicidade e a segurança da sua vida dependem dos bens materiais, o homem acaba por viver completamente em função deles. Como verdadeiro escravo, subordina-lhe tudo e sujeita-se a tudo para os acrescentar e conservar. Por vezes, é tão escravo deles que nem sequer os usa em seu proveito pessoal! Além disso, não raras vezes, o homem não hesita em hipotecar e menosprezar a sua consciência e a sua fé, as suas convicções e compromissos, os seus sentimentos e afectos, os seus amigos e até a sua própria família. Quantos, movidos pela sua desmesurada ambição, não agem como tiranos, explorando os outros ou exercendo um domínio indevido sobre eles! O endeusamento da riqueza acaba por desumanizar o homem e gerar enormes injustiças sociais.

Jesus convida-nos a confiar na providência de Deus, argumentando com o que Ele faz em favor das aves do céu e os lírios do campo. Deus, na sua sábia providência, proporciona a todos os animais e plantas o que eles precisam para viver. Muito mais o faz em relação ao homem. No entanto, a confiança na providência de Deus não implica desinteresse em relação aos bens deste mundo nem constitui um apelo à preguiça, como se tudo caísse do Céu e nos viesse ter às mãos. As próprias aves afadigam-se a procurar o alimento, a fazer os seus ninhos, a criar os seus filhos.

Algo de semelhante acontece com o homem. Deus faz a parte mais difícil, criando a natureza e dotando-a de tudo o que é necessário à vida e ao desenvolvimento do homem. O homem, por sua vez, deve trabalhar para conseguir os bens de que precisa. Mas deve fazê-lo consciente de que todos esses bens são um precioso dom Deus. Deve também sentir e reconhecer que, para além destes bens, que Deus no seu amor providente lhe concede, precisa, mais ainda, do próprio Deus. E deve tomar consciência e assumir que a sua vida depende mais de Deus do que dos bens que adquire e acumula com o seu esforço.

O homem que dá o primeiro lugar a Deus, que O ama com todo o seu coração e confia a Ele toda a sua vida e todos os seus projectos não se preocupa, excessiva e doentiamente, com o dia de amanhã, com o que comerá, beberá ou vestirá. Nessa medida, estará mais atento e será mais sensível aos pobres, partilhando com eles o que possui.

Aquele que confia no Senhor dá também a primazia ao Reino de Deus. Esse segue o conselho de Jesus: “Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”, pois acredita na sua promessa: “tudo o mais vos será dado por acréscimo”. Aquele que consagra a sua vida ao reino de Deus receberá, como resultado e fruto desse seu empenhamento, todos aqueles bens que são inerentes ao próprio Reino. Quando o homem faz a sua parte, aquilo que está ao seu alcance e é sua missão fazer, então terá “tudo o mais” de que precisa para se realizar e ser feliz, pois Deus nunca falta com a sua parte.

“Não podeis servir a Deus e …”. Esta advertência de Jesus é válida e actual para nós. 
  • Não existirão muitos “tesouros” em nós a rivalizar com Deus, a lutar pelo primeiro lugar do nosso coração? 
  • Não viveremos demasiado preocupados com as seguranças humanas ao ponto de relegarmos Deus para segundo lugar, fazendo de Deus apenas “o amor das horas vagas”?! 
  • Não correremos o risco de andar metidos nas “coisas” da Igreja e de nos cansarmos em actividades apostólicas e pastorais mais por amor de nós próprios do que por amor de Deus, mais para satisfazer interesses pessoais do que em vista da glória de Deus?
O primeiro mandamento, que nos manda amar a Deus sobre todas as coisas, tem implícito o imperativo de fazer “todas as coisas só por amor de Deus” (D. João de Oliveira Matos).

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Quaresma 2011: resistir à «idolatria dos bens».

Mensagem do Papa apela às práticas do jejum e da esmola para superar egoísmos

Bento XVI apelou hoje aos cristãos de todo o mundo para que resistam à “idolatria dos bens”, aproveitando o próximo período da Quaresma para desenvolver a sua “capacidade de partilha”.

“A avidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha”.

O documento intitula-se «Sepultados com Cristo no Baptismo, também com Ele fostes ressuscitados», frase retirada da carta escrita pelo Apóstolo Paulo à comunidade de Colossos, na actual Turquia (século I).

Segundo Bento XVI, “a idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida”.
Aos cristãos, acrescenta, compete “libertar” o coração “das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra»”, procurando “estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo”.

A Quaresma, que este ano se inicia a 9 de Março, com a celebração das cinzas, é um período de preparação para a Páscoa, maior festa do calendário dos católicos, com a duração de 40 dias, marcados pelo jejum, o apelo à partilha e à penitência.
O Papa sublinha que este período oferece “um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã”.
“Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”.

Quanto ao jejum, Bento XVI afirma que a prática “adquire para o cristão um significado profundamente religioso”.
“Tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos”.

Nesse sentido, diz o Papa, “para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo”.

“Sem a perspectiva da eternidade e da transcendência, ele  (o tempo, ndr) cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro”.

“Mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo”, conclui o Papa.
Fonte: Ecclesia

terça-feira, fevereiro 15, 2011

domingo, fevereiro 06, 2011

"Vós sois a luz do mundo"

Jesus apresentou as bem-aventuranças como o programa que o homem deve seguir para acolher o reino de Deus, para o ajudar a construir na terra e para o receber como herança no Céu. Aqueles que vivem segundo este projecto são, no dizer do próprio Jesus, “sal da terra” e “luz do mundo”, ou seja, ajudam a dar sabor e sentido à vida dos homens.
Jesus é a verdadeira luz do mundo: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12). Jesus é luz porque, com a sua palavra e a sua vida, revela a verdade sobre Deus, o homem, o mundo e a história. Por sua vez, os seus discípulos, na medida em que acreditam em Jesus e se identificam com Ele, irradiam a sua luz diante dos homens. De facto, através das boas obras, eles reflectem a luz de Cristo - a luz da verdade e do amor de Deus. E, nessa mesma medida, tornam Deus visível aos homens.
“Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus”. Os discípulos não devem, por certo, publicitar o bem que fazem, mas, se o realizam, não deixará de ser notado pelos homens e não deixará de os interpelar. Mas quais são, em concreto, essas boas obras que revelam Deus aos homens e os levam a acreditar nele e a louvá-lo?

A primeira leitura dá-nos a resposta. Através do profetas Isaías, Deus diz-nos que o homem é luz e que a sua luz brilha no mundo, quando reparte o pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva a roupa ao que não tem que vestir e não volta as costas ao seu semelhante; quando tira do meio de si a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas.
Estas obras irradiam a luz de Cristo e são luz para os homens porque mostram o rosto de:
  • um Deus que ama os homens e é misericordioso para com eles;
  • um Deus que se torna próximo de cada homem e se mostra interessado em mudar a sorte do pobre, do doente e do oprimido;
  • um Deus que propõe e promove a liberdade e a fraternidade entre os homens;
  • um Deus que quer precisar dos homens para concretizar os seus planos e alcançar os seus objectivos.

Além disso, revelam que a religião do verdadeiro Deus é uma religião que está ao serviço da pessoa humana. Deus interessa-se pelo bem do homem no seu todo e não apenas nem tanto pela sua dimensão religiosa. O que o verdadeiro Deus mais deseja e espera daqueles que nele acreditam é que amem e respeitem o seu semelhante.

O cristão irradia a luz de Cristo:

  • sempre que diz e defende a verdade, apesar de muitas vezes ser mais cómodo e trazer mais proveito calá-la ou colocar-se do lado da mentira;
  • quando respeita e defende a vida humana em todas as suas etapas, remando contra a forte corrente de uma falsa modernidade;
  • quando vive segundo a moral do Evangelho, apesar do relativismo moral vigente na sociedade;
  • quando, sem medo nem vergonha, professa a sua fé e defende os princípios e os valores que lhe são inerentes, mesmo nas circunstâncias mais difíceis e nas questões mais controversas com que é confrontado.

Vivendo assim, os cristãos fazem a diferença, levam os homens a interrogarem-se e a reflectirem, dão-lhes razões válidas e consistentes para acreditarem em Deus. O testemunho de vida dos cristãos constitui o anúncio mais convincente e eficaz do Evangelho de Jesus. A sua coerência de vida é o caminho mais adequado para levar os homens até Deus, a amá-lo e a glorificá-lo como o Pai que está nos Céus.

Os Actos dos Apóstolos confirmam que o testemunho de vida das comunidades cristãs primitivas (tinham um só coração e uma só alma, entre eles tudo era comum, entre eles não havia ninguém necessitado) fazia aumentar todos os dias o número daqueles que abraçavam a fé (Act 2,46-47;4,32-35). Ainda hoje, num mundo em que a palavra está completamente desacreditada, a vida das comunidades cristãs constitui o principal e mais eficaz meio de evangelização. Se falta este testemunho, todas as acções pastorais estão votadas ao fracasso.