Informações diversas e actuais de interesse a respeito da paróquia de LAGEOSA DO MONDEGO - Celorico da Beira, distrito da Guarda

sábado, janeiro 22, 2011

Os preferidos de Deus

Depois de ter baptizado Jesus e presenciado a manifestação de Deus, João sabe que chegou ao termo a sua missão. Como último acto da mesma, confessa que Jesus é o Filho de Deus (Jo 1,34) e revela que é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”(Jo 1,29.36), ou seja, manifesta aos judeus e, sobretudo, aos seus discípulos a identidade e a missão de Jesus. Deste modo, indica-lhes que, a partir daquele momento, já não tem sentido continuar com ele. Pelo contrário, devem olhar apenas para Jesus e segui-lo unicamente a Ele. João desaparece da cena pública (foi preso) e Jesus começa a anunciar o reino de Deus na Galileia.
É curioso que Jesus tenha dado início à sua pregação na região da Galileia, conhecida, desde o tempo de Isaías, como “a Galileia dos gentios”. A Galileia, embora fazendo parte da Terra prometida, era apelidada de terra dos gentios porque, desde o séc. VIII a. C., eram muitos os não judeus que habitavam naquela região.
Ao começar por aí, Jesus mostra que vem para todos os povos (e não apenas para o povo de Israel) e que Deus quer salvar todos os homens (e não apenas os judeus). Além disso, manifesta também que, embora vindo para todos, dá especial atenção aos que eram olhados com desdém e tratados com desprezo pela sociedade. Esses são os preferidos de Deus.
Jesus, anunciando a proximidade do reino de Deus, cumpre a profecia de Isaías: uma grande luz brilha e ilumina os homens e mulheres que andavam nas trevas. O reino de Deus é o mundo novo que Deus sonhou para os homem, um mundo segundo a medida do seu amor por eles. Um mundo novo que reclama justiça para os pobres e liberdade para os oprimidos; que é verdade para quantos procuram o sentido da vida e perdão misericordioso de Deus para os homens pecadores (cf Lc 4,18-19).
Os que andavam nas trevas eram, antes de mais:
  • aqueles que não viam claro o sentido da vida e não tinham consciência da sua dignidade;
  • aqueles que eram vítimas das injustiças e arbitrariedades dos senhores deste mundo e que, por isso mesmo, não tinham reconhecido o seu lugar na sociedade;
  • eram também aqueles que, desconhecendo a verdade de Deus, viviam enganados e esmagados pelas religiões dos homens. E, como é óbvio, na origem de todas estas formas de trevas está o pecado do homem.

O reino de Deus, para se tornar realidade no mundo dos homens, exige que estes o acolham na sua vida e colaborem na sua construção. Nesse sentido, Jesus exorta: “arrependei-vos”.

  1. Em primeiro lugar, o homem é convidado a confrontar a sua vida com a proposta de vida que Jesus lhe faz, de modo a descobrir a discrepância que existe entre elas.
  2. Depois, Jesus convida o homem a converter-se a Deus, ou seja, a conformar a sua mente e o seu coração com a verdade e o amor de Deus. Então, o homem voltará a pertencer plenamente a Deus e viverá em plena sintonia e comunhão com Ele. O reino de Deus começa a acontecer no coração do homem.
  3. Só depois, o homem, assim renovado interiormente, poderá fazer crescer o reino de Deus na sociedade, isto é, construir a sociedade em conformidade com os desígnios de Deus, segundo os valores da “verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz”.

O Evangelho deste domingo relata-nos também o chamamento dos primeiros quatro discípulos de Jesus. Antes de mais, importa salientar o facto que Jesus tenha chamado os seus discípulos logo no início do seu ministério. Procedendo desse modo, Jesus mostra como considera importante e necessário que eles O acompanhem ao longo de toda a sua missão entre os homens. Esse é o tempo que os apóstolos têm para conhecer Jesus, a sua vida e missão. O tempo do seu ministério público indica a duração e o âmbito da formação dos apóstolos.
Em segundo lugar, impressiona-nos a resposta pronta e positiva daqueles quatro pescadores da Galileia. A um simples convite “Segui-me”, acompanhado de uma promessa cujo alcance não devem ter compreendido muito bem: “farei de vós pescadores de homens”, eles, sem perderem tempo a fazer cálculos e sem terem exigido nada em troca, decidiram arriscar por completo as suas vidas: deixaram tudo e seguiram Jesus.

“Arrependei-vos” e “segui-me” são dois convites que Jesus continua a dirigir aos homens de todos os tempos, também a cada um de nós. Os dois apelos são, em certa medida, inseparáveis. Na verdade, o arrependimento, a renúncia ao egoísmo e ao pecado que dele nasce, a conversão a Deus, só acontecem quando o homem se encontra com Jesus e aceita fazer dele o caminho da sua vida. Por outras palavras, o homem só adere efectivamente ao reino de Deus e lhe consagra toda a sua vida, quando descobre e aceita que Jesus vale mais do que todos os seus bens, as suas verdades, os seus pontos de vista, as suas seguranças humanas; quando descobre e aceita que Ele é o tesouro ao qual vale a pena subordinar tudo (os bens e a própria vida).

Pe. Martins in Jornal "A Guarda"

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