
Hoje, oitavo dia do Natal e primeiro dia do Ano Novo, celebramos este mistério admirável: a maternidade divina de Maria! Precisamos de silêncio e de recolhimento interiores para entrar neste mistério e nos maravilharmos com Ele: Maria, uma simples mulher, desempenha esta missão tão divina!
A maternidade divina de Maria não a isenta de todas as limitações e dificuldades humanas. A graça de Deus só por si não garante, automaticamente e como por magia, a compreensão de todos os mistérios divinos e a solução de todos os problemas humanos.
Os evangelhos mostram que Maria nem sempre compreende o que se diz de Jesus nem o que Jesus lhe diz. Nessas circunstâncias, ela guarda as palavras e medita-as no seu coração. A graça de Deus ajuda-a na compreensão da verdade mas não dispensa o seu esforço humano.
Os evangelhos também registam algumas das dificuldades que Maria enfrentou enquanto mãe de Jesus. Ela teve de fugir para o Egipto, juntamente com José, para salvar a vida do Filho, pois Herodes queria matá-lo. Experimentou a angústia da perda do Jesus, quando este decidiu ficar em Jerusalém sem nada lhe dizer. A graça de Deus não impediu que Maria tivesse de enfrentar estas e outras adversidades, mas deu-lhe a capacidade de as superar.
Maria viveu a sua maternidade divina na maior simplicidade e humildade, segundo aquela atitude de serviço que assumiu, no momento da Anunciação, diante do Anjo: Eis a escrava do Senhor”. É como serva, serva cheia da graça e do amor de Deus, que Maria vive a sua maternidade divina. Maria não deve ter partilhado com ninguém esta graça. Com muito probabilidade, durante a sua vida terrena, ninguém, para além de Jesus, considerou e honrou Maria como Mãe de Deus.

Mais tarde, a reflexão, feita a partir dos relatos evangélicos, sobre o mistério da Encarnação do Filho de Deus, levou a Igreja, no Concílio de Éfeso (431), a apresentar como verdade de fé a maternidade divina de Maria. Agora, todo o povo cristão a invoca como a Santa Maria, Mãe de Deus, implorando a sua materna intercessão.
“Deus enviou o seu Filho … para nos tornar seus filhos adoptivos”. Deus, em Jesus, faz de nós seus filhos. Mais, envia ao nosso coração o seu Espírito, para nos capacitar a chamá-lo Pai. Graças á generosidade do seu amor, podemos, com toda a legitimidade, chamar a Deus: “Pai-Nosso”. Este facto mostra até que ponto Deus nos ama e como o seu amor atinge o mais íntimo e a totalidade do nosso ser. Faz pensar que Deus queira ser nosso Pai e nos trate efectivamente como seu filhos!
Este pensar e meditar à luz da fé leva-nos a tomar consciência de que Deus é Pai de todos os homens e, consequentemente, todos os homens são nossos irmãos. Como é importante e necessário meditar, longa e profundamente, nesta verdade, tirando e assumindo todas as suas consequências. O amor que Deus Pai partilha com todos os homens torna-os capazes

A fraternidade humana e só ela, quando entendida e vivida à luz do amor de Deus Pai, leva cada homem a reconhecer a igualdade de todos os outros homens e a respeitar os seus direitos. A fraternidade humana impele-nos a querer para os outros o que queremos para nós, motiva-nos a fazer aos outros o que queremos que eles nos façam, a tratá-los do mesmo modo que desejamos ser tratados por eles. Numa palavra, a fraternidade humana universal, que brota da comum filiação divina, é o único caminho que garante a justiça e a paz entre os homens.
Hoje, primeiro dia do Novo Ano, a Igreja convida-nos a reflectir e a rezar pela paz. A paz é, antes de mais, um dom, uma bênção de Deus. A bênção que os sacerdotes do Antigo testamento deviam dar ao povo incluía este voto: “O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz”.
Mas a paz na terra exige também o esforço do homem. Jesus, no Sermão da Montanha, proclama: “Felizes os construtores da paz (os pacificadores), porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Os filhos de Deus, precisamente porque filhos de Deus, têm uma maior responsabilidade e uma capacidade acrescida na construção da paz.
Como dissemos antes, a nossa condição de filhos de Deus, quando tomada a sério, impele-nos e ajuda-nos a considerar os outros como iguais a nós, a amá-los e a respeitá-los, com a mesma dedicação e intensidade, como queremos ser respeitados e amados por eles.
O pior inimigo da paz (da convivência harmoniosa entre os homens) está

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