Ao saber que Lázaro estava doente, Jesus, em vez de correr ao seu encontro para o curar, permanece por mais dois dias no local onde se encontrava. Parece não se incomodar muito nem dar muita importância ao facto. Depois, ao saber que Lazaro morreu, Jesus manifesta o seu contentamento: “alegro-me por não ter estado lá”.
Jesus surpreende-nos e desconcerta-nos, frequentemente, com as suas reacções! Neste caso concreto, como acreditar que Jesus era realmente amigo de Lazaro, de Marta e de Maria! Não estará Jesus a pôr em causa a amizade que o unia àquela família?!
Ao referir-se à doença de Lazaro, Jesus diz: “Essa doença é para que por ela seja glorificado o Filho do homem”. Por sua vez, ao referir a vantagem de não ter estado lá, Jesus, dirigindo-se aos discípulos, aponta um motivo importante: “por vossa causa … para que acrediteis”. Como entender as vantagens da doença e morte de Lazaro? Em que medida o facto de não ter chegado lá, antes de Lazaro morrer, pode ser mais apropriado para Jesus manifestar a sua glória e os seus discípulos acreditarem nele?
Jesus alegra-se por não ter estado lá para o curar, porque assim pode manifestar o seu poder divino, chamando-o da morte à vida. Ora, é, sem dúvida alguma, mais revelador do seu poder divino ressuscitar Lázaro do que restabelecer a sua saúde. E é muito mais importante para os homens que Ele possa ressuscitar os mortos do que curar os doentes.
“Alegro-me por não ter estado lá”. Se tivesse estado lá, não teria acontecido o diálogo, tão franco e tão revelador, entre Jesus e Marta. Através dele, Jesus apresenta-se como “a ressurreição e a vida”, o Senhor da vida e da morte, e garante que quem nele acredita nunca morrerá. Por Ele, os homens têm acesso à vida eterna de Deus.
Por sua vez, Marta tem a oportunidade de professar a sua fé em Jesus: “Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”. A dor que sente pela morte do irmão não rouba a Marta a capacidade de ouvir nem a priva da sua lucidez. Pelo contrário, ela escuta e compreende as palavras e as razões de Jesus. Por isso, daquele diálogo sai mais esclarecida a sua fé e mais forte o seu amor por Jesus.
“Alegro-me por não ter estado lá”. Não tendo estado lá antes, quando parecia mais lógico e necessário que estivesse, Jesus tem a oportunidade de mostrar, de um modo ainda mais evidente e convincente, como era amigo daquela família e como era profundamente humano.
Na verdade, Jesus, ao ver “Maria chorar e vendo chorar também os judeus que vinham com ela, comoveu-se profundamente e perturbou-se”. E, depois, ao aproximar-se do local onde tinham colocado o corpo de Lázaro, “Jesus chorou”. Jesus comove-se e chora, porque é sensível à dor e às lágrimas dos familiares e amigos de Lázaro. Mas Jesus chora também porque era efectivamente muito amigo de Lázaro. Os próprios judeus o intuem e, por conseguinte, comentam com admiração: “vede como era seu amigo!”
Ainda bem que Jesus não estava lá! Assim, Ele pôde dar este extraordinário testemunho de amizade. Jesus, o Filho de Deus, que tem poder para ressuscitar Lázaro, mostra-se profunda e admiravelmente humano, chorando por Lázaro morto!
“Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido”. Estas são as palavras com que Marta e Maria, em separado, se dirigem a Jesus, quando se encontram com Ele, após a morte do irmão. Segundo elas, foi uma pena que Ele não tivesse chegado ante, a tempo de o curar, pois estão convictas de que Ele poderia ter evitado a sua morte.
Não tendo estado lá, na altura em que as duas irmãs julgavam que deveria estar, Jesus pôde revelar melhor a sua verdadeira identidade: revelou a sua divindade, ressuscitando Lazaro, e mostrou a sua humanidade, chorando por ele e comovendo-se com todos os que choravam. Além disso, e esse é o principal objectivo de Jesus, muitos, testemunhando o que Ele fez por Lázaro, acreditaram nele.
Muitas vezes censuramos Deus porque Ele, pensamos nós, não se encontra no lugar certo nem actua na hora certa, ou seja, Deus não está onde e quando é preciso nem actua segundo as nossas necessidades. Por vezes, ficamos com a impressão de que Deus não está do nosso lado nem age em nosso favor como seria de esperar do verdadeiro Deus. A história do Evangelho mostra que Deus, muito melhor do que nós, conhece o que nos faz falta e convém, para a nossa vida e para a nossa salvação. Ele, melhor do que nós, sabe qual é o momento certo para agir na vida do homem e em seu favor.
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